terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Mais informações sobre a Reação Extrapiramidal

Desde meu primeiro - e até então único - post neste blog, há  mais de um ano, recebi diversos comentários e e-mails de pessoas relatando terem passado pela mesma situação. Na verdade, notei que estas mensagens têm ficado mais frequentes. Isto quer dizer algumas coisas:

1) que muitas pessoas estão passando pelos efeitos da Reação Extrapiramidal

2) que o susto e a falta de informação provinda de fontes oficiais (leia-se bula e profissionais da saúde) fazem com que estas pessoas busquem informações na internet.

Estes dados, aliados à dificuldade em obter informação sobre o assunto, me motivaram a escrever um segundo post um pouco mais substancial sobre a Reação Extrapiramidal. Como não tenho formação profissional alguma na área, recorri à médica intensivista Paula Toledo. Com a ajuda dela, elaborei um texto baseado em um artigo publicado em um jornal cientifico em 2007.

Aqui, pretendo ajudar a esclarecer, pelo menos um pouco, este mistério que é a Reação Extrapiramidal. A maioria dos casos relatados nos comentários ocorreu após a administração de antieméticos e/ou pro-cinéticos como o Plasil (metoclopramida) e o Digesan (bromoprida).

*Informações importantes:
- Não descontinue nenhuma medicação sem a orientação de seu médico
- Não é recomendado o auto-diagnóstico
- Busque somente informações em fontes seguras


Os principais sintomas

Inicialmente, a Reação Extrapiramidal era associada quase que exclusivamente aos efeitos de medicamentos anti-psicóticos. Atualmente, já se sabe que muitas outras classes de remédios causam estes efeitos indesejados - o Plasil (metoclopramida) e o Digesan (a bromoprida) são apenas alguns deles. Outro dado interessante - e que já havia notado nos comentários - é que a Reação Extrapiramidal é mais frequente entre as mulheres.

Os quatro principais sintomas da Reação Extrapiramidal são a acatisia, a distonia, o pseudoparksonismo e a discinesia, podendo se manifestar de diversas formas: desde um desconforto mínimo até movimentos involuntários permanentes. Seu aparecimento também varia, já que pode aparecer tanto na primeira dose da medicação quanto no decorrer do tratamento.

O que torna muito difícil o diagnóstico da Reação Extrapiramidal é que ela pode ser facilmente confundida com outros transtornos e distúrbios, como ansiedade, depressão, episódios maníacos, o distúrbio bipolar do humor, psicose, síndrome de Tourette, paralisia cerebral, intoxicação, AVC e síndrome das pernas inquietas, entre outros.


ACATISIA

Um dos sintomas mais comuns, a acatisia é a impossibilidade de ficar parado e possui dois fatores: 
a) fator subjetivo, no qual o paciente verbaliza esta inquietação, a perda de concentração, apresenta distúrbios de sono 

b) fator objetivo, em que o paciente demonstra inquietação ou dificuldade de ficar parado - anda, marcha, troca o apoio de pernas incessantemente. 

A acatisia pode se manifestar no corpo todo ou apenas em extremidades. Pode também se estender por dias ou semanas. 

São muito frequentes os comentários aqui no blog em que as pessoas relatam ter tido vontade de tirar o acesso venoso enquanto recebem soro e sair correndo. Geralmente, a acatisia é confundida com ansiedade, o que pode fazer com que sejam receitadas novas doses do remédio, podendo agravar o quadro. 


DISTONIA

É a contração involuntário de músculos da cabeça, do pescoço, do tronco e de extremidades. As partes mais afetadas são a cabeça e o pescoço, incluindo a língua, músculos da face, olhos, mandíbula e garganta - com possibilidade de rouquidão e dificuldade para deglutir. Ainda podem ocorrer torcicolo e torção do pescoço, além de serem frequentes casos em que os pacientes viram os olhos para cima, onde ficam temporariamente travados.


PSEUDOPARKINSONISMO

Caracteriza-se pela enorme semelhança com o Parkinson, causando confusão até mesmo em profissionais experientes. Manifesta-se sob a forma de tremor nas extremidades, falta de expressão facial, enfraquecimento da voz e a impossibilidade de mexer braços enquanto caminha. Ademais, podem surgir também alguns efeitos mentais temporários, como a lentificação mental, habilidade reduzida de reagir a situações familiares.


DISCINESIA

-       Movimentação rápida, repetitiva e involuntária da face, do tronco, de músculos respiratórios e extremidades – assemelhando-se a um cacoete (caretas involuntárias). Geralmente, são sintomas associados aos efeitos de medicamentos anti-psicóticos e podem aparecer tardiamente.



COMPLICAÇÕES DE ORDEM MENTAL

Embora os relatos que têm aparecido nos comentários deste blog se refiram muito mais frequentemente aos efeitos de ordem mental da Reação Extrapiramidal, muito pouco se encontra nos artigos médicos acerca disto. O que se sabe é que por exacerbar diversas variações emocionais, alguns sintomas de saúde mental podem se manifestar na Reação Extrapiramidal. Depressão, pensamentos suicidas, ansiedade e o abuso de drogas são alguns deles.


 É importante, como já mencionado no primeiro post, manter a calma e ter em mente que a maior parte destes sintomas é passageira. Manter-se informado é essencial. Nossa intenção não é a de conduzir ninguém a um auto-diagnóstico! De posse destas informações, você deve procurar a ajuda de um médico; esperamos que os dados aqui expostos possam ajudar na busca pelo diagnóstico correto.





segunda-feira, 22 de setembro de 2014

REAÇÃO EXTRAPIRAMIDAL: APRESENTAÇÃO

Este blog tem como objetivo informar e alertar as pessoas acerca de um tema ainda pouco discutido, mas muito perigoso, que é o efeito colateral conhecido como Reação Extrapiramidal, associado a medicamentos como a Bromoprida (Digesan) e a Metoclopramida (Plasil), entre outros.

Em poucas palavras, a Reação Extrapiramidal, faz com que a pessoa se sinta profundamente deprimida, inquieta (acatisia) e com uma sensação de morte iminente, efeitos que duram em média 12 horas, mas que podem ser mais breves ou mais longos. Tudo parece impossível e insuportável: trabalhar, sair, viver. Resumindo ainda mais: para algumas pessoas, estes remédios são verdadeiros indutores de suicídio.

Tanto o Digesan quanto o Plasil são medicamentos frequentemente prescritos, inclusive para crianças, idosos e gestantes. Consta na literatura médica que a incidência da reação adversa a estes medicamentos é de 20% nas crianças e 0,2% nos adultos. Não é pouco. No entanto, a bula apresenta o efeito colateral inesperado como algo diminuto. Não é. Ainda assim, são poucos os médicos que reconhecem estes efeitos com a gravidade que lhes cabe. Nos prontos-socorros, sendo administrado soro com Plasil, é comum que as pessoas comecem a sentir os efeitos da Reação Extrapiramidal, e muitas vezes, nada é feito.

Quem já passou pela aflição da Reação Extrapiramidal não esquece. Posso afirmá-lo com conhecimento de causa. Tomei Plasil desde criança e me lembro de sentir os efeitos do remédio, mas demorei anos até relacionar o inacreditável mal estar a um remédio tão inocente. Hoje sei que meu organismo não tolera estes medicamentos.

Para mim, é extremamente difícil descrever os sintomas da Reação Extrapiramidal. Consegui me acalmar e juntar os pedaços espalhados quando encontrei, na Internet, relatos muito semelhantes ao que senti. Vou me valer, aqui, de um deles:

(...) o que importa, para mim, é a sensação abismal de estar fora do mundo que me acometeu nas três ocasiões em que a tomei.

Na primeira, houve uma depressão indizível; já era de noite. Lembro que me enrolei na cama e me forcei a dormir, esperando que o dia trouxesse o bem-estar de volta. Nunca havia experimentado nada parecido, porque não me recordo, antes disso, de ter tido o seguinte pensamento que me ocorreu naquela noite: como, em algum dia da minha vida, eu pude me sentir bem? Como pude viver meu dia-a-dia, levantar, comer, sair para trabalhar?
A partir de então, eu nunca mais poderia deixar de refletir nesse estado de alma, que havia conseguido até mesmo apagar, ainda que por algumas horas, toda memória emocional de normalidade.

A segunda vez foi a pior. Administraram-me bromoprida por meio de intravenosa, no soro, depois de uma intoxicação alimentar. Alguém viria me buscar dentro em pouco. Findo o soro, eu saí da maca e tentei me sentar no banco de espera, mas qualquer posição ali me era insuportável. Era como se houvesse uma inadequação entre mim e meu corpo, entre mim e qualquer objeto que eu tentasse reconhecer e tocar. Era como se tudo à minha volta gritasse silenciosamente que eu não estava ali. Fui então tomada de um pânico quieto. Imaginei que minha saúde não andava boa, imaginei o que aconteceria se me acometesse algo mais sério e eu tivesse que depender de hospitais, de visitas. (...)

Novamente no hospital, administraram-me a bromoprida e poucos minutos depois eu já me sentia invadida de uma agitação intolerável. Implorei para o médico me deixar sair (ele riu!), menti que não estava mais tonta, ele me deu o atestado, voei pela porta e peguei um táxi.

No carro, achei que o dia lindíssimo me consolaria, mas não me consolou. Percebi que me sentia miserável, um pobre-diabo, separada para sempre do mundo dos mortais. Os objetos que eu tocava e via – a maçaneta da porta, os prédios, a praia, as montanhas – perdiam a densidade e o valor que o cotidiano lhes atribuía, transformando-se em um opaco cenário de pesadelo. Indaguei como tudo ao meu redor parecia vivo, mas eu não conseguia participar dessa vida. A vida, como vêem, passou a ser 'essa vida', um dêitico indicando que, ao apontar para ela, identifico-a como algo fora de mim. (...)




Neste blog, pretendo recolher outros relatos (por favor, deixem seu comentário), mas, acima de tudo, quero deixar um recado para quem foi acometido pelos sintomas e está em busca de alguma resposta. Portanto, para finalizar, coloco aqui três breves comentários com o intuito de ajudar as pessoas:

1.     Isto não acontece somente com você e, não, você não está louco;
2.     Os efeitos vão passar. Normalmente, em 12 horas, já é possível se restabelecer e voltar a viver. Às vezes, pode durar um pouco mais;
3.     Caso seja acometido pelos efeitos, procure não utilizar mais estes medicamentos.