segunda-feira, 22 de setembro de 2014

REAÇÃO EXTRAPIRAMIDAL: APRESENTAÇÃO

Este blog tem como objetivo informar e alertar as pessoas acerca de um tema ainda pouco discutido, mas muito perigoso, que é o efeito colateral conhecido como Reação Extrapiramidal, associado a medicamentos como a Bromoprida (Digesan) e a Metoclopramida (Plasil), entre outros.

Em poucas palavras, a Reação Extrapiramidal, faz com que a pessoa se sinta profundamente deprimida, inquieta (acatisia) e com uma sensação de morte iminente, efeitos que duram em média 12 horas, mas que podem ser mais breves ou mais longos. Tudo parece impossível e insuportável: trabalhar, sair, viver. Resumindo ainda mais: para algumas pessoas, estes remédios são verdadeiros indutores de suicídio.

Tanto o Digesan quanto o Plasil são medicamentos frequentemente prescritos, inclusive para crianças, idosos e gestantes. Consta na literatura médica que a incidência da reação adversa a estes medicamentos é de 20% nas crianças e 0,2% nos adultos. Não é pouco. No entanto, a bula apresenta o efeito colateral inesperado como algo diminuto. Não é. Ainda assim, são poucos os médicos que reconhecem estes efeitos com a gravidade que lhes cabe. Nos prontos-socorros, sendo administrado soro com Plasil, é comum que as pessoas comecem a sentir os efeitos da Reação Extrapiramidal, e muitas vezes, nada é feito.

Quem já passou pela aflição da Reação Extrapiramidal não esquece. Posso afirmá-lo com conhecimento de causa. Tomei Plasil desde criança e me lembro de sentir os efeitos do remédio, mas demorei anos até relacionar o inacreditável mal estar a um remédio tão inocente. Hoje sei que meu organismo não tolera estes medicamentos.

Para mim, é extremamente difícil descrever os sintomas da Reação Extrapiramidal. Consegui me acalmar e juntar os pedaços espalhados quando encontrei, na Internet, relatos muito semelhantes ao que senti. Vou me valer, aqui, de um deles:

(...) o que importa, para mim, é a sensação abismal de estar fora do mundo que me acometeu nas três ocasiões em que a tomei.

Na primeira, houve uma depressão indizível; já era de noite. Lembro que me enrolei na cama e me forcei a dormir, esperando que o dia trouxesse o bem-estar de volta. Nunca havia experimentado nada parecido, porque não me recordo, antes disso, de ter tido o seguinte pensamento que me ocorreu naquela noite: como, em algum dia da minha vida, eu pude me sentir bem? Como pude viver meu dia-a-dia, levantar, comer, sair para trabalhar?
A partir de então, eu nunca mais poderia deixar de refletir nesse estado de alma, que havia conseguido até mesmo apagar, ainda que por algumas horas, toda memória emocional de normalidade.

A segunda vez foi a pior. Administraram-me bromoprida por meio de intravenosa, no soro, depois de uma intoxicação alimentar. Alguém viria me buscar dentro em pouco. Findo o soro, eu saí da maca e tentei me sentar no banco de espera, mas qualquer posição ali me era insuportável. Era como se houvesse uma inadequação entre mim e meu corpo, entre mim e qualquer objeto que eu tentasse reconhecer e tocar. Era como se tudo à minha volta gritasse silenciosamente que eu não estava ali. Fui então tomada de um pânico quieto. Imaginei que minha saúde não andava boa, imaginei o que aconteceria se me acometesse algo mais sério e eu tivesse que depender de hospitais, de visitas. (...)

Novamente no hospital, administraram-me a bromoprida e poucos minutos depois eu já me sentia invadida de uma agitação intolerável. Implorei para o médico me deixar sair (ele riu!), menti que não estava mais tonta, ele me deu o atestado, voei pela porta e peguei um táxi.

No carro, achei que o dia lindíssimo me consolaria, mas não me consolou. Percebi que me sentia miserável, um pobre-diabo, separada para sempre do mundo dos mortais. Os objetos que eu tocava e via – a maçaneta da porta, os prédios, a praia, as montanhas – perdiam a densidade e o valor que o cotidiano lhes atribuía, transformando-se em um opaco cenário de pesadelo. Indaguei como tudo ao meu redor parecia vivo, mas eu não conseguia participar dessa vida. A vida, como vêem, passou a ser 'essa vida', um dêitico indicando que, ao apontar para ela, identifico-a como algo fora de mim. (...)




Neste blog, pretendo recolher outros relatos (por favor, deixem seu comentário), mas, acima de tudo, quero deixar um recado para quem foi acometido pelos sintomas e está em busca de alguma resposta. Portanto, para finalizar, coloco aqui três breves comentários com o intuito de ajudar as pessoas:

1.     Isto não acontece somente com você e, não, você não está louco;
2.     Os efeitos vão passar. Normalmente, em 12 horas, já é possível se restabelecer e voltar a viver. Às vezes, pode durar um pouco mais;
3.     Caso seja acometido pelos efeitos, procure não utilizar mais estes medicamentos.